24/03/2020 14h58
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Representantes da Santa Casa, Santa Lucinda, Gpaci e BOS debateram com parlamentares o cenário das unidades ante a pandemia do Covid-19

A Câmara Municipal realizou na manhã desta terça-feira, 24, uma reunião com os gestores dos hospitais conveniados com a Prefeitura para debater as ações de enfrentamento do Município ante à pandemia do Covid-19. Além do presidente Fernando Dini (MDB), que abriu a reunião, e demais parlamentares, participaram da reunião o moderador da Santa Casa, o arcebispo metropolitano Dom Júlio Endi Akamine, e o presidente do Conselho de Administração da Irmandade da Santa Casa, padre Flávio Jorge Miguel Júnior; o superintendente do Hospital Santa Lucinda, Carlos Aparecido Teles Drisostes; o diretor técnico do Gpaci, Gustavo Ribeiro Nevez; e o vice-presidente do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), Sérgio Gabriel.

Durante a reunião, o presidente Fernando Dini (MDB) anunciou a criação de uma Comissão Especial na Casa para acompanhamento de todas as ações de combate ao Covid-19 no Município. “Para que possamos dar nossa contribuição, não apenas como fiscalizadores, mas como protagonistas, nesse momento tão importante”, frisou Dini. 

Por aclamação, o vereador Anselmo Neto (PSDB) foi declarado presidente da Comissão Especial. Já a relatoria caberá a Hudson Pessini (MDB), que preside a CPI da Saúde. Imediatamente, Neto passou a presidir o encontro e, em seguida, apresentou um ofício solicitando uma reunião emergencial com a Secretaria de Saúde e representantes dos hospitais. “Seremos interlocutores dos profissionais da saúde”, frisou Neto.

BOS – Dando início às apresentações, Sérgio Gabriel apresentou um panorama do atendimento no BOS. Segundo o vice-presidente, as cirurgias eletivas foram suspensas no Hospital Oftalmológico, restando apenas o atendimento de urgência. Os funcionários do grupo de risco e algumas mães foram afastados. Lembrou ainda que o hospital possui dez leitos, mas apenas dois respiradores.

Com relação à Unidade de Pronto Atendimento do Éden, sob gerenciamento do BOS, disse que são 18 leitos, sendo oito adultos, quatro pediátricos e dois de isolamento. Disse ainda que houve uma queda na procura por atendimento na unidade, sendo que no último domingo foram registradas 204 pacientes. “As pessoas acabam procurando atendimento no momento que não deve e isso mostra que está havendo consciência por parte da população”, afirmou. Por fim, ressaltou que hoje o maior gargalo do hospital é referente à greve dos ônibus. 

Segundo o vereador Francisco França (PT), caberá às entidades informarem suas necessidades à Urbes que deverá dar a ordem de serviço à empresa de transporte público para que os ônibus sejam disponibilizados em horários específicos. O parlamentar lembrou que, ao contrário dos funcionários da área da saúde, os motoristas não têm preparo para ligar com a atual situação e que estavam totalmente expostos, por isso o sindicato optou pela paralisação.

Em resposta à vereadora Fernanda Garcia (PSOL), Sérgio Gabriel garantiu que todos os equipamentos de proteção não estão em falta e estão sendo utilizados por todos os funcionários.

Com relação ao Gpaci, o Dr. Gustavo lembrou que, apesar das crianças não serem grupo de risco, o hospital atende pacientes com câncer, portanto no grupo de risco. Disse que houve 13 pedidos de afastamento dos funcionários, o que é um desafio para o hospital. Afirmou ainda que o atendimento ambulatorial de especialidade pediátrica foi suspenso. Segundo ele, o momento agora é de preparação e que, dos 60 leitos, 12 poderiam servir para pacientes do Covid-19 em enfermaria e outros 10 para UTI.

Santa Lucinda – Da mesma forma que o representante do GPaci, Carlos Aparecido Teles Drisostes, do Hospital Santa Lucinda, disse que uma grande dificuldade enfrentada nos últimos dez dias é o pânico gerado pelo coronavirus. Disse ainda que diversas medidas foram tomadas para manter as atividades, como a suspensão do atendimento pré-cirúrgico e eletivo de convênios. Citou também que estão com dificuldade com os insumos, devido ao preço ou a escassez, e que possui leitos, mas falta pessoal, e que, em caso de isolamento, os leitos caem pela metade. Assim como o represente do BOS, destacou ainda que a greve no transporte público atingiu diretamente o hospital.

Questionado pelo vereador Francisco França (PT) sobre a confirmação e divulgação dos casos suspeitos, informou que pessoas com suspeita da doença são isoladas e passam por tratamento, sendo colhidos os exames, mas os resultados têm demorado. “Não estamos enganando a sociedade em momento nenhum. Nós não temos o resultado dos exames, então tratamos como suspeitos”, disse.

O vereador Rodrigo Manga (DEM) ressaltou que falta gestão de crise por parte do Executivo. “Isso mostra a fragilidade e incapacidade do Poder Executivo. Se reunir com os gestores dos hospitais e com os sindicatos era o mínimo que qualquer gestor faria, infelizmente estamos vivendo esse caos todo”, disse, referindo-se, inclusive, à suspensão do transporte público.

Anselmo Neto (PSDB) lembrou que a cidade está em Estado de Calamidade, o que coloca todas as decisões sob responsabilidade da prefeita Jaqueline Coutinho, sem necessidade de aprovação do Legislativo. “Lembrando a população que nós estamos mais do que nunca de mãos atadas. Nós não conseguimos impor nada nesse momento de calamidade. Tudo é com a prefeita”, afirmou, clamando, porém, a união das forças.

Em seguida, o vereador Fausto Peres (Podemos) destacou a importância de participação do setor de fiscalização e da Guarda Civil Municipal nos debates por soluções. “Temos que unir força. Essa reunião é importante, pois estamos aqui para tentar resolver os problemas da população de Sorocaba”, disse, lembrando que na última semana já havia indicado a criação de um centro específico para atendimento dos pacientes com Covid-19 e também medidas econômicas para acalmar os trabalhadores que temem ficar sem salário.

Santa Casa – O presidente do Conselho de Administração da Irmandade  da Santa Casa, Padre Flávio Jorge Miguel Júnior, apresentou um panorama do hospital e lembrou que o Brasil, ao contrário da Europa, teve chances de se precaver, ante às experiências dos demais países. Segundo ele, a Santa Casa, já em no mês de janeiro, comprou 20 mil máscaras, depois mais 50 mil que estão para chegar, e alugou respiradores e macas.

“Estamos tensos, mas mantendo a calma dentro do hospital. O que fizemos foi afastar do meio hospitalar o maior número de funcionários administrativos, como do setor jurídico”, afirmou, lembrando que esses profissionais continuam trabalhando. Também foram afastados voluntários e estudantes universitários e tomadas medidas de proteção aos pacientes oncológicos, além de divulgação de boletim diário às 13 horas.

Padre Flávio também reforçou que há falta de testes e a demora na divulgação dos resultados para descartar ou confirmar os casos suspeitos. Destacou ainda que participou de reuniões com a Prefeitura e com o deputado federal Vitor Lippi e Milton Palma, da DRS. “A maior parte das cidades de nossa região não tem nem hospital, tem apenas PA”, afirmou.

Disse também que a Santa Casa têm 20 leitos de UTI, reformados, sendo que todos estão ocupados atualmente. “Não é por causa do coronavírus que as outras doenças vão desaparecer. Nossos hospitais já estão lotados”, frisou. Afirmou ainda que os leitos da antiga UTI poderão ser reativados, assim que conseguirem novos respiradores. Também será isolada uma área do hospital, com leitos específicos para atender casos de Covid-19. “Fizemos reuniões e estamos avançando”, concluiu.

Por fim, ressaltou que a greve do transporte público afetou os pacientes do hospital nesta segunda-feira. “Achei um desrespeito com a população. A greve para nós foi uma tragédia, não só para os funcionários, mas para os pacientes”, afirmou. Segundo o vereador Francisco França (PT) o sindicato dos transportes públicos aguarda uma autorização e ordem de serviço da Urbes, para que os ônibus passem atender os hospitais em horários especiais.

Manifestações dos vereadores - Em seguida, a vereadora Cintia de Almeida (MDB) questionou o Padre Flávio se a Santa Casa recebeu as emendas impositivas dos vereadores – o que foi negado pelo gestor – e disse que o jurídico da Câmara estuda a transmissão de todas as emendas para a Saúde. “Penso que essa reunião, com as informações importantes repassadas, será um importante start para essa comissão criada”, disse. A vereadora afirmou ainda que protocolou um projeto, em caráter de urgência, para criação da “Policlínica Integrativa”, destinada a terapias alternativas, com intenção de aumentar a imunidade dos pacientes.

Já a vereadora Iara Bernardi (PT) questionou os recursos federais que poderão ser liberados, ante a declaração de estado de calamidade, reforçando a necessidade de agilidade nas ações para que eles não sejam perdidos. Cobrou ainda um envolvimento maior dos deputados estaduais da região.

E os vereadores Péricles Régis (MDB) e Hudson Pessini (MDB) reforçaram a responsabilidade de cada cidadão no isolamento e uso responsável de máscaras e álcool em gel. Régis também propôs a devolução antecipada do duodécimo da Câmara, para contenção da pandemia; que os vereadores abram mão dos R$ 29 milhões das emendas impositivas deste ano, para que retornem ao orçamento do município; e que as sessões sejam realizadas de forma remota. Por fim, o vereador Silvano Junior (MDB) sugeriu que o Legislativo coloque os 20 carros dos gabinetes à disposição do Executivo.

“O que ficou bem claro aqui hoje é que um hospital tem espaço e tem instrumento. Outro hospital tem pessoas, mas não tem o espaço e o instrumento. Então antes de fazermos qualquer coisa na Arena Multiuso, nós gostaríamos muito que todos os hospitais fossem aproveitados, primeiramente”, concluiu o presidente da Comissão Especial encerrando a reunião.