25/03/2020 20h01
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Geraldo Almeida defende medidas para apoiar a população de baixa renda e afirma que, com solidariedade, é possível enfrentar e superar a crise ​

Os impactos sociais e econômicos da pandemia do coronavírus foram objeto de análise do economista Geraldo Almeida em entrevista à edição especial do programa Conexão Rádio Câmara no final da tarde desta quarta-feira, 25. O programa, conduzido pelo jornalista e radialista Anderson Santos, foi transmitido também pela TV Câmara e contou com a participação de ouvintes, que abordaram diversos aspectos econômicos da crise com o economista, que já ocupou cargo de secretário na Prefeitura Municipal.

“Já vivi muitas crises, como a crise dos anos 80, a chamada ‘Década Perdida’, mas essa crise atual é sem precedentes. Minha mãe viveu a guerra e meu avó viu a Revolução de 32. Mas, na época, não parou tudo como agora. Vamos ter que passar por um processo de reconstrução, como ocorreu na época da Segunda Guerra, na Europa, em que países foram destruídos e tiveram que se reconstruir”, afirma Geraldo Almeida, enfatizando o papel do Estado na condução desse processo de reconstrução.

O economista diz que a quarentena recomendada pelas autoridades sanitárias para evitar a disseminação acelerada do coronavírus abala profundamente a economia. “O setor privado precisa das pessoas trabalhando, consumindo, comprando. Por isso, o impacto será muito grande, mas, nesse momento, o mais importante é salvar vidas. Quando se precifica a vida, a própria vida não vale a pena”, enfatizou Geraldo Almeida, observando que mesmo aqueles que defendem o fim imediato da quarentena, sob a alegação de alguns milhares de morte são inevitáveis, obviamente não gostariam de ver seus próprios parentes entre esses mortos.

Bons gestores – Para Geraldo Almeida, o governo tem o papel de conduzir a flexibilização da quarentena e, sobretudo, deve ajudar os mais pobres a sobreviverem à crise. “O governo precisa colocar dinheiro no mercado e deve fazer com que esse dinheiro chegue às mãos de quem mais precisa, dos desvalidos. Esse é o momento em que vamos precisar de bons gestores”, ressaltou. Também alertou que é preciso tomar cuidado com os oportunistas que, em momentos de crise, tentam tirar proveito da situação difícil das pessoas para obter ganhos.

“Se nos próximos 15 dias se perceber que o risco do contágio reduziu, é preciso ir abrindo aos poucos. Vamos passar por um período difícil nos próximos 60 ou 90 dias, mas é o preço a ser pago para que não ocorra um colapso do sistema de saúde nesse momento, com o coronavírus se somando às outras doenças que já existem”, observa. “O perigo da transmissão comunitária é quando o vírus chegar nas comunidades mais pobres. Essas pessoas precisam de ajuda para sair dessa situação e o poder público precisa ser rápido”, acrescenta.

Geraldo Almeida observou que setores do empresariado tendem a pressionar o governo, com ameaças de demissão de funcionários, como já vem ocorrendo. “O pronunciamento oficial do presidente da República refletiu essas queixas do empresariado em relação à quarentena, mas talvez seja a hora de Bolsonaro mudar o seu lema para: ‘Saúde acima de tudo, Deus acima de todos’”, defende. “Devemos esperar mais 15 ou 20 dias e ver se é possível sair desse isolamento, caso contrário haverá uma onda muito grande de demissões”, diz.

Setor industrial – Em contrapartida, segundo Geraldo Almeida, alguns setores da economia podem vender bem nesse momento na crise e citou como exemplo os supermercados, que venderam muito nos últimos dias. Também destacou o caso da empresa Flex, com um grande parque industrial em Sorocaba, que irá participar do esforço nacional para a produção de respiradores. “Ela tem uma impressora 3D que é única no Brasil e conta com um quadro de excelentes engenheiros, muitos deles formados em Sorocaba”, destaca.

Geraldo Almeida também analisou o impacto da crise na indústria de Sorocaba. “Temos um parque industrial altamente diversificado, com indústria automobilística, que é a Toyota, os fornecedores de autopeças, um polo metalmecânico e eletroeletrônico muito forte. Todos esses setores vão sentir a crise porque estão na ponta, que é o consumo. Sorocaba tem um setor de aeronaves, mas como vai ficar esse setor? É um momento de incerteza”, observou, acrescentando que o setor farmacêutico está ganhando, tanto que uma pequena indústria de medicamentos de Sorocaba vai aumentar a produção de vitaminas.

Respondendo a perguntas de ouvintes que queriam saber como proceder no caso de contratos de serviços privados, como aqueles entre pais e escolas particulares, o economista recomendou que o importante é que haja diálogo entre as partes, uma vez que, ao mesmo tempo em que os pais podem ter uma queda em sua renda, o que dificulta pagar as mensalidades, por outro lado, a escola tem custos fixos, como os salários de professores. No caso das escolas públicas, o economista recomendou um subsídio às famílias com o dinheiro que será economizado com a merenda.

O economista defendeu que o governo também olhe com atenção especial os microempreendedores, que estão entre os mais prejudicados e não têm capital para sair da crise. Também defendeu uma espécie de bolsa-emprego para os trabalhadores de faixas salariais mais baixas, como ocorre em países europeus. Por fim, Geraldo Almeida enfatizou: “Nesse mundo de incerteza, a principal decisão nesse momento é salvar vidas. E pensar nos desvalidos”. Também disse que será preciso mudar paradigmas, cultivando mais sensibilidade social e solidariedade: “Talvez vamos acabar percebendo que não precisamos consumir tanto, que podemos buscar o ser em vez do ter”.

A entrevista foi transmitida ao vivo pela Rádio e TV Câmara e poderá ser vista nas redes sociais da Casa de Leis.