16/04/2021 13h40
atualizado em: 16/04/2021 13h45
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Uma psiquiatra e fundadores da Associação Amigos dos Autistas (Amas) participaram do programa, levado ao ar dentro do “Abril Azul”

Cláudia Antila, psiquiatraCom o objetivo de conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista e sobre os direitos dos autistas, dentro das atividades do “Abril Azul”, a TV Câmara realizou uma roda de conversa virtual na manhã desta sexta-feira, 16, com uma especialista e com fundadores da Amas (Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba) para tratar do assunto. Participaram da roda de conversa, comandada pela apresentadora Carina Rocco, a psiquiatra Cláudia Cristina Pereira Gomes Antila, voluntária da entidade há quase 20 anos, e o casal Célia Regina Barros Humaitá e Celso Humaitá, fundadores da Amas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem no mundo cerca de 70 milhões de pessoas com o transtorno do espectro autista, a maioria do sexo masculino, sendo que, no Brasil, a estimativa é que existam 2 milhões de pessoas. O autismo, conforme salienta a psiquiatra Claudia Antila, é uma alteração no desenvolvimento neurológico da criança, que afeta sua comunicação e socialização, tornando-se mais perceptível por volta dos três anos, sobretudo em relação ao não desenvolvimento da fala, mas pode – e, conforme enfatiza, deve – ser detectado antes através da observação de outras formas de comportamento da criança.

Diagnóstico precoce – “É possível perceber os primeiros sinais do autismo já durante a amamentação, quando o bebê não faz contato visual com a mamadeira e com os pais. E se esse diagnóstico for feito precocemente, a criança não vai deixar de ser autista, mas poderão ser evitados alguns problemas de socialização e inclusão”, afirma Cláudia Antila. Segundo ela, em 2022, com a entrada em vigor do CID-11 (nova Classificação Internacional de Doenças) haverá uma nova classificação do transtorno do espectro autista, que, oficialmente, ainda não é classificado por gravidade, isto é, como leve, moderado ou severo. A psiquiatra explica que crianças não verbais, com rebaixamento cognitivo e com outras patologias associadas representam os casos mais graves de autismo.

A psiquiatra observou que, mesmo nos países desenvolvidos, o diagnóstico do autismo leva em torno de três anos para ser concretizado e enfatizou que, para se fazer esse diagnóstico, é preciso que haja uma melhor escuta dos pais por parte de diversos profissionais, como pediatras e professores de creches, que podem comparar o comportamento da criança com o das demais crianças de sua faixa etária. “O diagnóstico precoce é fundamental em termos de autismo, Regina e Celso Humaitá, da Amaspois, sem ele, a criança deixa de alcançar habilidades que poderia alcançar se o diagnóstico fosse feito o mais precocemente possível”, afirma Cristina Átila.

Experiência dos pais – O casal Regina Humaitá e Celso Humaitá contou o que os levou a fundar, em 1994, a Associação Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas), uma vez que, quando tiveram um filho autista, Igor, hoje com 30 anos, não tiveram nenhum apoio ou atendimento antes que ele completasse sete anos, pois, na época, o autismo ainda era bastante desconhecido. Regina Humaitá contou que, já na amamentação, percebia que seu filho não fazia contato visual, enquanto Celso Humaitá lembrou que, na época, tiveram que aprender o que era o autismo com o próprio filho. “O autismo não tem cura, tem compreensão”, disse.

Corroborando a percepção dos pais de autistas, Cristina Átila destacou que cada pessoa com o transtorno do espectro autista é uma pessoa diferente, com suas próprias características, e que isso precisa ser levado em conta no próprio diagnóstico. A psiquiatra afirma que a escola regular é o lugar adequado para o aprendizado do autista, pois a convivência com crianças de sua faixa etária ajuda no seu desenvolvimento. Segundo ela, alguns casos mais graves, quando a criança tem outras patologias e não se adaptou à escola regular, podem ser atendidos numa escola especial, observando que Amas oferece esse atendimento, com métodos específicos, por uma equipe multidisciplinar.

Autismo e pandemia – A psiquiatra Cristina Antila enfatizou que, com a pandemia, é importar reorganizar uma nova rotina para as crianças com autismo, buscando conciliar atividades no computador, atividades manuais, caminhadas com máscara, se for possível, e cuidado com o sono e a alimentação. Celso Humaitá também falou das dificuldades vividas pelos pais de autistas durante a pandemia e observou que entidades como a Amas são importantes para que os pais convivem e troquem experiências com outros pais de crianças autistas.

Celso Humaitá também enfatizou a importância da inclusão dos autistas na escola regular, falou dos avanços últimos anos, mas observou que para os professores, com 40 alunos na sala, é difícil lidar com um aluno autista. “Infelizmente, a escola pública não está preparada para a inclusão do autista”, disse. Para ele, “a família do autista precisa ser devidamente estendida para não se isolar e se tornar, também autista”, ressaltando que atitudes como a tolerância devem balizar a sociedade.

Leis sobre autismo – Em Sorocaba, a Lei 10.245, de 4 de setembro de 2012, de autoria do então vereador José Francisco Martinez, instituiu a Política Municipal de Atendimento às Pessoas com Transtornos do Espectro Autista, antes mesmo da Lei Federal 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

A referida lei federal estabelece que “a pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais”, devendo ser-lhe garantidos uma vida digna, integridade física e moral, livre desenvolvimento da personalidade, segurança, lazer e proteção contra qualquer forma de abuso e exploração, entre outros direitos.

No âmbito de Sorocaba, a Câmara também aprovou a 9.581, de 24 de maio de 2011, de autoria do então vereador Anselmo Neto, que instituiu o Dia Municipal de Inclusão do Autista, a ser comemorado no dia 2 de abril, quando também se comemora o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

Já a Lei 11.821, de 23 de outubro de 2018, de autoria do vereador Dr. Hélio Brasileiro (PSDB), instituiu o cartão de identificação para pessoa com Transtorno do Espectro Autista residente no Município de Sorocaba, com nome e telefone do cuidador ou responsável, bem como um selo para ser afixado nos veículos que transportem essas pessoas.