16/04/2024 18h53
atualizado em: 17/04/2024 18h32
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Por iniciativa do vereador Fábio Simoa (Republicanos), especialistas e frequentadores trataram da recuperação do imóvel histórico.

As propostas para ampliar o debate sobre a restauração da Capela Senhor do Bonfim (João de Camargo), danificada após fortes chuvas que atingiram a cidade, foram discutidas em audiência pública realizada na tarde desta terça-feira, 16, no plenário da Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Fábio Simoa (Republicanos). Participaram do evento especialistas, autoridades e frequentadores do prédio histórico.

Além do vereador, que presidiu a sessão, a mesa principal foi composta pelos vereadores Iara Bernardi (PT), Fernanda Garcia (PSOL), João Donizeti (União) e Ítalo Moreira (União); o secretario de cultura, Luiz Antônio Zamuner; o presidente da Capela Senhor do Bonfim, Adriano Molina; a doutora em educação, Daiana de Moura; e a representante e conselheira do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico, Maíra Sfeier. Outros representantes de entidades, convidados e autoridades integraram a mesa estendida do evento, como o superintendente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Danilo Nunes, do Ministério da Cultura.

“Como presidente da Comissão de Cultura quero agradecer todos que me procuraram para organizar a e ampliar esse debate sobre a restauração de tão grandiosa e valiosa que é a capela. Fico feliz e honrado de estar aqui hoje representando a comissão e o que é a cultura”, disse o vereador Fábio Simoa, lamentando a situação em que ficou o prédio após as fortes chuvas que atingiram a cidade no mês de janeiro, e danificaram a estrutura da capela. Ele contou que será formada uma comissão especial na casa para tratar da restauração da capela.

O vereador João Donizeti destacou a importância do valor histórico da capela para a cidade e se colocou à disposição para contribuir com o processo de preservação . “É um patrimônio material e imaterial, pela figura de João Camargo”.  A vereadora Iara Bernardi disse que “a comunhão de esforço vai fazer com que a gente recupere esse patrimônio da história de todos os sorocabanos”,  enquanto Fernanda Garcia lembrou do histórico de luta e de religiosidade que representa a capela. “Nosso intuito é contribuir com essa discussão e apoiar a luta dos que estão envolvidos em defesa da capela João de Camargo”. Ítalo Moreira lembrou que faz parte da comissão que atua na restauração do Mosteiro de São Bento e sugeriu possibilidades para captação de recursos via leis de incentivo e programas públicos.

Danilo Nunes lembrou que o país foi construído por diversos povos e culturas e que a capela João de Camargo representa esse sincretismo. “Ali está a essência do nosso povo, dentro dessa capela, dentro desse patrimônio”. Segundo ele, o patrimônio cultural brasileiro vem sendo ameaçado pelas mudanças climáticas e o IPHAN tem se dedicado a essa proteção. O secretário de Cultura falou sobre o dia em que a capela foi atingida pelas águas da forte chuva registrada na cidade, no mês de janeiro. “Foi uma madrugada desesperadora”, disse, citando ainda os estragos no GEPACI, que fica próximo ao prédio. Zamuner contou que acionou o Conselho de Cultura e foi aprovada a utilização de recursos do Fundo Municipal de Cultura para custear o projeto de restauração do patrimônio.

Daiana de Moura, representando os voluntários que estão atuando na recuperação da capela, disse que o que aconteceu foi um “ultraje”, para além de uma tragédia. Segundo ela, o patrimônio negro vem sofrendo ataques e os danos na capela João de Camargo ainda causam pesadelos.  “Esse processo (de restauração) precisa ser reconhecido, legitimado, fortalecido e levado a cabo em todas as instancias. Porque maior do que todos nós é o patrimônio negro brasileiro, e esse patrimônio vai continuar. Isso aqui é um exemplo, de quanto ele tem força”, afirmou Daiana, que pediu comprometimento de todos os participantes do evento. “Só para começar, a média de custo é entre R$ 85 e 90 mil”, disse, se referindo apenas ao projeto de restauração.

Presidente da Capela Senhor do Bonfim, Adriano Molina, fez uma breve explanação sobre quem foi João de Camargo, a inspiração para construir a capela com as próprias mãos, no período após a abolição da escravatura, a criação de uma escola mista e popular, e de uma corporação musical. “Tudo isso sendo analfabeto”, lembrou. Molina contou que João de Camargo prestava auxílio espiritual e material. “Deveríamos estar aqui debatendo uma forma de como agradecer tudo que ele fez, não discutindo uma forma de como o poder público ajudar”, disse. Ele citou, como exemplo, que há um ano pede a retirada de uma árvore condenada no terreno da capela e que até hoje não teve retorno da Secretaria do Meio Ambiente. Molina também fez a leitura de uma manifesto em favor da capela, assinado por diversas personalidades artísticas, e pediu compromissos públicos para a restauração.

Maíra Sfeier, que também é arquiteta e voluntária na recuperação da capela, passou um panorama técnico sobre o trabalho e os problemas de uma má execução de restauro. “Deve ser um trabalho multidisciplinar, que envolve desde arquitetos, engenheiros, historiadores, topógrafos, arqueólogos, museólogos entre outros”, disse, justificando os custos para o projeto de restauração. Ela explicou sobre trâmites legais de uma restauração para que não tenha perda material e cultural dos bens. Segundo a conselheira, houve danos estruturais na capela e que são necessários diversos estudos para entender as necessidades para a restauração. “Depois será realizado um projeto executivo e memorial descritivo necessários para aprovação dentro do conselho. Só então é que poderemos orçar a restauração e a previsão de prazos. O que a gente precisa agora é o dinheiro para os projetos”, afirmou.

A conselheira pontuou que uma necessidade da administração pública, para evitar esse tipo de ocorrência, é uma revisão do sistema de drenagem da cidade. Questionada sobre o valor para o total da obra, Maíra disse que são necessários estudos para entender o que é preciso. O empresário Sérgio Rezze afirmou que doou um veículo para a capela poder realizar alguma ação para arrecadar recursos. Daina explicou que é preciso o comprometimento do poder público com o processo, sendo que recursos de outras fontes serão importantes para complementar as obras. Danilo Nunes defendeu tombar capela como patrimônio histórico federal e ampliar as possibilidades de captação de recursos.

Outras perguntas e sugestões foram apresentadas e respondidas pelos participantes, bem como pedidos de mobilização do poder público e parcerias com outras secretarias para buscar soluções para prevenir futuros problemas na região da capela. Também foi lembrada da importância da capela para o desenvolvimento da cidade, como a chegada dos correios devido ao volume de cartas endereçadas a João de Camargo.

Iara Bernardi agradeceu o empenho do ator Paulo Betti por organizar o manifesto e a coleta de assinaturas de outras personalidades em apoio e defesa do patrimônio histórico. João Donizeti reforçou a situação de mudanças climáticas que podem voltar a prejudicar a região e a necessidade de medidas preventivas contra inundações, ação defendida da mesma forma por Fernanda Garcia. A audiência pode ser assistida na integra durante a programação da TV Câmara Sorocaba ou pelas mídias sociais do Legislativo (YouTube e Facebook).