15/10/2013 18h13

Os secretários Armando Raggio (Saúde) e Edith Di Giorgi (Desenvolvimento Social), acompanhados de técnicos da área, responderam questionamentos dos vereadores

 

A vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento Social, Edith Di Giorgi, e o secretário de Saúde, Armando Raggio, acompanhados de técnicos da área de saúde, foram ouvidos na Câmara Municipal de Sorocaba, logo após a sessão ordinária de terça-feira, 15, sobre a questão da dependência química no município. A iniciativa do convite aos secretários, feito pelo presidente da Casa, vereador José Francisco Martinez (PSDB), partiu do vereador Rodrigo Manga (PP), que preside a Comissão sobre Dependência Química da Câmara Municipal, integrada pelos vereadores Luis Santos (PROS), Pastor Apolo (PSB), Saulo do Afro Arts (PRP), Waldomiro de Freitas (PSD) e José Crespo (DEM).

 

Entre outros questionamentos, Rodrigo Manga indagou sobre o fato de não haver vagas para internação de mulheres no Grasa (Grupo Santo Antônio de Apoio para Drogas e Álcool) e também sobre a implantação de mais Caps (Centros de Apoio Psicossocial) no município. A secretária Edith Di Giorgi disse que a entidade Lua Nova faz internação de mulheres, quando necessário, mas reconheceu que esse é um problema grave em todo o país, pois a internação de mulheres é mais complexa, uma vez que, em muitos casos, envolve também suas crianças. A secretária anunciou ainda que a Prefeitura pretende instalar nove Caps na cidade.

 

Manga também quis saber se a Prefeitura tem conhecimento das “minicracolândias” denunciadas por reportagens da TV Tem e do jornal Cruzeiro do Sul e que providências estão sendo tomadas em relação a elas. Edith Di Giorgi negou que existem “minicracolândias” na cidade, mas admitiu que há locais mais propícios ao uso de drogas na cidade e que é grave a existência deles. Por sua vez, a coordenadora de Saúde Mental de Sorocaba, Luciana Togni Surjus, enfatizou que a política do município no setor segue a política nacional e tem como meta abrir as portas do SUS (Sistema Único de Saúde) para as pessoas que usam drogas.

 

Internação de dependentes – Rodrigo Manga questionou, ainda, o fato de não haver triagem diária para dependentes químicos, visando a internação. Edith Di Giorgi disse que a internação do dependente químico não pode ser prioridade, mas a última opção. Por sua vez, Luciana Togni Surjus disse que o objetivo é trabalhar com o conceito de “acolhimento” e não de triagem. E enfatizou que a internação não pode ser a única nem a primeira opção de tratamento.

 

Baseando-se em especialistas, Rodrigo Manga citou a necessidade de se implantar um Cratod para internações involuntárias e compulsórias no município. O vereador enfatizou que, em muitos casos, até para aderir ao tratamento, o usuário de drogas necessita da internação para se desintoxicar. Mas Luciana Surjus observou que o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas) levantou uma expectativa muito grande quanto à internação, mas a rede não está preparada para atender essa demanda.

 

Fernando Dini (PMDB) disse que o problema das drogas é cada vez mais grave e que dependente químico é também um doente de alma, sendo necessário cuidar de sua espiritualidade. O vereador Pastor Apolo (PSB) também fez observação semelhante e disse que gostaria de concordar com a secretária no sentido de que não existe cracolândia em Sorocaba, mas enfatizou que, “com dor no coração”, se vê obrigado a admitir que as “cracolândias” existem sim no município. Observou que a reincidência é muito grande e que quem está cuidando dos drogados com mais eficiência são as igrejas. “Se não enfrentarmos esse problema, vamos viver momentos difíceis, catastróficos”, alertou.

 

Papel do Estado – O vereador Marinho Marte (PPS) criticou a administração municipal por tentar negar a existência de cracolândias em Sorocaba. E questionou o fato de uma filha do presidente do Grasa, que recebe verba do município, ter cargo de oficial de gabinete na Prefeitura, ajudando nas política pública sobre drogas. Em resposta ao vereador, Edith Di Giorgi disse não ver problema nesse vínculo, uma vez que os serviços prestados pelo Grasa na questão das drogas são anteriores à nomeação da servidora. Vários vereadores ressaltaram a importância do trabalho desenvolvido pelo Grasa, enquanto o presidente da Casa, José Francisco Martinez justificou a pertinência do questionamento feito por Marinho Marte.

 

Por sua vez, o vereador Anselmo Neto (PP) quis saber quando é que, para os técnicos na área, o problema das drogas passa a ser um caso de saúde pública. O vereador observou que, em vários pontos da cidade, há um consumo explícito de drogas à luz do dia, inclusive envolvendo crianças, e cobrou maior responsabilidade dos pais e responsáveis. “Não sou contra o Estado cuidar do dependente químico, mas o Estado não pode cuidar de tudo sozinho, o cidadão também precisa fazer a sua parte. O poder público tem que mostrar às pessoas as suas obrigações”, afirmou o vereador.

 

Moradores de rua – Jessé Loures (PV) observou que o problema dos moradores de rua também está interligado com a questão das drogas, pois muitos moradores de rua são dependentes químicos, e também com a segurança pública. O vereador disse que é preciso mais vontade política para se resolver o problema. Respondendo às indagações do vereador, Edith Di Giorgi disse que a abordagem social do morador de rua foi separada da abordagem repressiva. “A abordagem social é para criar vínculos”, explicou. Segundo ela, muitas pessoas saíram das ruas, mantendo a população de rua em torno de 300 pessoas.

 

Já o vereador Carlos Leite (PT) observou que há muito dependente químico que se passar por morador de rua, enquanto Waldomiro de Freitas (PSD) disse que há moradores de rua que querem ficar na rua e que são as igrejas, especialmente as evangélicas, as que mais conseguem tirar pessoas da rua.

 

No final das oitivas, o vereador Rodrigo Manga disse que não ficou satisfeito ao saber que não é meta do Executivo instalar o Cratod em Sorocaba. Manga insistiu que não existe solução para o crack se não for feita uma intervenção. “Respeito o direito de ir e vir das pessoas, mas, mais importante do que esse direito de ir e vir, é o direito à vida. E as pessoas que estão nas cracolândias têm direito à vida”, enfatizou, defendendo a internação em casos graves.