22/05/2020 16h12
atualizado em: 22/05/2020 16h17
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Na tarde desta sexta-feira (22), os delegados Veraly de Fátima Bramante, da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), e Marcelo Almagro, que também é psicanalista, participaram de uma entrevista na TV Câmara Sorocaba para falar sobre a rotina de atendimento à menores vítimas de violência sexual. O programa faz parte do engajamento do Legislativo Sorocaba na campanha Maio Laranja, de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

De acordo com Veraly Bramante, o crime contra crianças é algo que choca, e a polícia tem buscado promover uma atenção diferenciada para o atendimento das vitimas que passaram por um processo de grande violência. Segundo a delegada, o empenho é em contar com assistência psicológica para receber os depoimentos de forma que não amplie o trauma dos menores envolvidos.

Assim como outras autoridades que já foram entrevistadas dentro da Campanha aio Laranja, Veraly destacou a lei de escuta especializada para crimes contra crianças, que é realizada em juízo e com o auxilio de profissionais e aparatos especializados para que o depoimento seja realizado apenas uma vez, de forma a evitar que a vitima reviva os acontecimentos. Caso o depoimento seja realizado na delegacia, a delegada destacou que o local possui sala especial para ouvir os relatos da criança ou do adolescente.

Sobre a questão de minimizar o trauma da violência em menores de idade, Marcelo Almagro, que também é psicoterapeuta, disse que os efeitos de um abuso sexual acompanham a vida da vitima. “Vai mexer com o inconsciente num nível profundo e normalmente essas pessoas vão desenvolver traumas e sequelas se não forem cuidadas”, alertou. Ele elogiou a rede de proteção existente na cidade para atender as vitimas de abuso sexual, formado, entre outras entidades, pelo Conselho Tutelar e os Caps.

Veraly afirmou que 90% dos casos de crimes contra menores são registrados dentro da própria casa, por familiares e pessoas próximas. Por esse motivo, a delegada orienta que os pais evitem deixar os filhos sem supervisão e observem o comportamento das crianças. “Se está mais amuada, se era brincalhona e está mais quieta, se manifesta medo, se faz xixi na cama, se tem comportamentos regressivos. Isso tudo normalmente mostra que a criança está tendo algum sofrimento emocional muito grande”, destaca. 

Por conta da experiência no acompanhamento de casos, os delegados disseram que a maioria das ocorrências acontece em lares sem estrutura familiar, principalmente quando pais e mães são divorciados e se envolvem com outras pessoas. “É preciso conhecer quem você leva para dentro de casa ou com quem você vai deixar seu filho”, alertam os policias. Lembrando que na maioria dos casos os criminosos possuem antecedentes que são desconhecidos pelos pais das vitimas. 

A delegada Veraly também destacou que a nova legislação prevê que o crime sexual contra crianças e adolescentes não prevê apenas a conjunção carnal. “O ato libidinoso, de passar a mão, também é considerado estupro”, afirmou. “A criança já começa a ter sua infância roubada através de olhares maliciosos. Comportamentos inadequados são mais amplos do que a violência física”, completou Marcelo Almagro.

Os delegados também lembraram que, atualmente, a sociedade passa por problemas que induzem as famílias a uma nova recomposição, por conta da redução de renda, casas menores, divisão de moradia, espaço para privacidade muito exíguo e falta de divisão de espaço, o que contribui para aumento dos casos de abuso de menores, como explicou Marcelo Almagro. “Isso é um foco de problemas porque as pessoas não têm direito à privacidade, então até mesmo questões urbanísticas te efeitos sobre as famílias”, disse.

Sobre protocolos de atendimento, os delegados afirmam que recebem treinamentos na Academia para entender como receber o depoimento e, quando a criança não é capaz de verbalizar, se pautam pelas provas técnicas e periciais. Eles contaram que a polícia, apesar do constante esforço para melhorar o atendimento, ainda necessita de reforço de material humano, principalmente de profissionais especializados. “Na delegacia, a pessoa chega machucada, fisicamente e emocionalmente, e às vezes não se consegue dar atenção que é necessária”, destaca Veraly, utilizando a DDM como exemplo. “Não é uma delegacia comum, precisaria de psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais”, destacou. A delegada informou que a DDM está à disposição da população na Rua Caracas, nº 846, no Jardim América.

Para finalizar a entrevista, os delegados orientaram as pessoas a denunciarem ocorrências de crimes pelo telefone 181, e de suspeita de crimes contra crianças, procurar um órgão de assistência da saúde para ajuda psicológica e posterior encaminhamento à delegacia. Eles ainda reforçaram a necessidade de cuidado dos pais com os filhos. “Percebam o comportamento, se mudou ou não, procure não deixar a criança com pessoas que vocês não conhecem”. Por fim, alertaram para o uso da internet sem supervisão de um responsável. “Muitos criminosos se utilizam do computador e as vezes se passam por crianças, temos vários inquéritos nesse sentido”, afirmou Marcelo Almagro. Ele orientou que em casa, a criança deve utilizar o computador em um ambiente supervisionado, para um acesso controlado.